quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Adolescência e identidade: fragilidade.

·         Analise a música abaixo a partir do artigo científico "Entre sofrimento e violência: a produção social da adolescência" de Jacqueline Barus-Michel (2005). Música: Não vou me adaptar (Nando Reis e Arnaldo Antunes).

A adolescência é um período de inúmeras mudanças biológicas, psicológicas, que influenciam na maneira de pensar e, consequentemente, de agir do indivíduo.  O adolescente encontra-se num período delicado, cheio de incertezas, buscas e desencontros. Fragilizado este segue, então, em busca de respostas para suas infinitas perguntas, e uma delas diz respeito ao seu eu: sua identidade. Um dos pontos marcantes tocados pela autora do artigo sobre a adolescência, dentro do aspecto psicanalítico, é o desenvolvimento do sentimento de identidade, a capacidade de reconhecer-se como si. De acordo com Barus-Michel, o contexto (social, econômico, cultural) influi diretamente nessa construção da identidade, ele é inerente e indissociável.
Fazendo uma análise da música “Não vou me adaptar” de Nando Reis e Arnaldo Antunes a partir do artigo "Entre sofrimento e violência: a produção social da adolescência" de Jacqueline Barus-Michel percebemos que a música faz uma referência direta à adolescência, mas é claro que a mesma pode ser passível de outras interpretações. Porém, dentro deste contexto, quando Nando e Arnaldo cantam os seguintes versos “Eu não vou me adaptar, me adaptar (2x) / Eu não tenho mais a cara que eu tinha / No espelho essa cara já não é minha.”, podemos inferir que concerne a esse momento de incerteza que fora supracitado.

De acordo com a autora do artigo:

A identidade é a construção contínua de uma representação de si por meio da qual se faz reconhecer. O reconhecimento dos outros, seu olhar, sua escuta, o lugar que designam ao jovem, confirmam a auto representação.

Diante do exposto, concluímos que para a construção da identidade do adolescente ser arquitetada, é necessário que haja um “olhar de fora”. O adolescente precisa estar ciente de sua representação na visão alheia, para confirmar a representação que ele possui, e vai adquirindo, de si mesmo. Levando em consideração as transformações, externas e internas, à que este indivíduo está sujeito, torna-se procedente a denominada crise de identidade. Onde o ego, ou seja, o “eu”, carece de figuras amadas e amantes, como modelos, para construção do mesmo, como cita Barus-Michel (2005).

Em “Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho / A minha barba estava desse tamanho.”, visualizamos um exemplo de transformação do fenótipo, que é relativo aos aspectos externos concatenado ao quesito biológico, expressa nos versos. Este sujeito já não se reconhece mais:

A situação da adolescência provoca uma fragilização identitária. A imagem do corpo [..] é teatro de mudanças incontroláveis, de modo que o sujeito vive suas próprias pulsões como desordenadas. Barus-Michel (2005)


Digamos que este ser, com as barbas já crescidas, não é o mesmo garotinho que fazia muitas perguntas e se contentava com alguma jocosidade, ou mentirinhas contadas pelos pais, como resposta. Ele quer, aliás, ele necessita de respostas dignas de dar valor ao ser, agora ciente de si e de suas incessantes modificações, internas e externas, que ele é e está se tornando.

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