segunda-feira, 20 de abril de 2015

A ninfa de Rafael


The Triumph of Galatea

Raffaello Sanzio, 1511

Villa Farnesina, Rome, Italy

Painting, Fresco, 295 x 225 cm

Inicio do século XVI: Em meio a um turbilhão de descobertas, numa época em que os grandes mestres parecem surgir em um só lugar, ou extremamente próximos, faz com que hoje, olhemos para o devido momento, com olhos de uma época que deixou marcas indeléveis na história da arte e da humanidade. Nesse contexto, ao lado de nomes como Michelangelo e Da Vinci, o Sereno Rafael, conquista espaço, propaga seu nome e suas habilidades artísticas, tornando-se um dos apelidados “deuses da Renascença” nos dias atuais.

A obra que eu escolhi para fazer uma leitura pessoal foi a Ninfa Galateia (1512-1514). Por quê? De início, nem eu soube responder o que me chamou tanta atenção, a história, que envolve mitologia, as cores, construção visual da obra, expressividade... Até agora estou tentando descobrir. O mais incrível é que a cada vez que paro para olhar percebo algo diferente, “leio” coisas novas, como se a obra se reinventasse diante dos meus olhos de acordo com meu estado e novos conhecimentos apropriados. Esse é um dos pontos fortes das obras renascentistas (e das grandes obras de arte, em geral, que fazem o nosso coração acelerar e mudam a gente em um aspecto muito íntimo, que por vezes, nem conseguimos identificar), e sinceramente, eu acho isso extraordinário.

Rafael chegou à cidade de Roma numa época, em que a mesma era uma das cidades mais importantes, centro da Igreja Católica. Constantemente era convocado para somar e fazer maior a magnificência da cidade. Em 1512, conta-se que, Chigi (um dos seus patronos) pediu ao mestre para que ele realizasse um afresco na parede de uma arcada com vista para um rio. Durante a Renascença, os escritores muitas vezes descobriram histórias na antiga literatura grega e romana que gostavam de recontar; Uma delas era o romance de Galateia. Rafael pintou a deusa de pé numa concha por dois golfinhos, um dos quais mastiga um polvo. Ele não usou ninguém como modelo, baseou Galateia em “um ideal”. A beleza ideal era algo que os antigos gregos buscavam em sua arte, e descobriram isso observando pessoas bonitas e construindo a pessoa ideal, ou perfeita, a partir de partes de cada uma delas. Rafael planejou seu afresco de forma que Galateia fosse o centro das atenções, ou seja, não importa o quanto observemos, hora ou outra, sempre voltamos os olhos à ninfa. Seguem abaixo, outros pontos percebidos que também colaboram para tal êxito:

Ele veste somente a ninfa de vermelho.
A capa que se espalha por trás da deusa a isola dos demais.
Ela está no centro da ligando o céu e o mar com o “giro” de seu corpo.
O tritão disposto à esquerda e a nereida à direita levantam os braços no sentido de seu rosto, desviando a atenção de si mesmos e voltando-a em sua direção.
Sete linhas estreitas formadas pelas setas acima e pelas rédeas que ligam suas mãos aos golfinhos também estão orientadas para a deusa.
Galateia parcialmente vestida e equilibrada remete à estátua de Vênus.
Cada figura corresponde a uma outra figura, os corpos em sentidos opostos e um jogo de movimentos e contra movimentos.
E como Gombrich cita: “o que é mais admirável é que todos esses movimentos diversos são, de algum modo, refletidos e absorvidos na própria figura de Galateia”.
Para além das características visuais e do mito de Galateia, pesquisei também o poema de Poliziano em que Gombrich diz Rafael ter se inspirado para realizar a obra. Descobri que na verdade, o poema é como se fosse a releitura de Poliziano sobre o mito, e então Rafael se apropria do poema e faz sua releitura em cima da releitura de Poliziano!
E o resultado está aí, o afresco veemente de uma candência indizível (situado na Villa Farnesina) que atravessou séculos e até hoje encanta os olhos e o coração de muita gente.

Vermeer, simplesmente belo



The Milkmaid
Rijksmuseum, Amsterdam, Netherlands
Painting, Oil on canvas, 46 x 41 cm

Escolhi o Vermeer, para um breve comentário, porque as obras dele me passam uma sensação tão deliciosa de intimidade e concentração, e uma apreciação enorme no que diz respeito aos traços do pintor, que o Rembrandt ficou para uma próxima...
Gosto muito das pinturas de gênero, que representam o cotidiano e a vida das pessoas, e como o Gombrich cita, “Com Vermeer, a pintura de “genre” perdeu o último vestígio de ilustração bem humorada”, eu acho isso fantástico. Os artistas que eu mais admiro são aqueles que de alguma forma, mudaram algo na arte, fizeram algo diferente, inovaram, colocaram a sua impressão de mundo extremamente peculiar em suas obras ou foram um tanto quanto visionários.
Sobre a obra... Fiquei entre a “the milkmaid” e a “the lacemaker”, mas escolhi A Leitera pela composição do cenário, é magnífico. Se tem um rapaz nessa história da arte que soube fazer algo simples se tornar indubitavelmente belo, foi o Vermeer. Meticuloso e de uma sensibilidade incrível, que sai de seus pincéis e atravessam nossos olhos mirando diretamente o coração... Isso explana um pouco da sensação deliciosa citada à cima.
Acho muito legal esse exercício de fazer leituras de obras, mesmo que sejam pessoais, porque com o tempo vim percebendo que quanto mais você faz esse exercício, mais “sensível” você fica pra perceber outras obras. Mesmo que na maioria das vezes seja difícil explicar o porquê da escolha, e mais ainda tentar traduzir algum sentimento que ela desperta em você de um jeito entendível às outras pessoas. No entanto, penso que essa seja a parte mais instigante, motivadora e enigmática, é como se a gente tentasse desvendar uma verdade (que já está dentro de nós) para nós mesmos, e assim, vamos crescendo mais “de fora pra dentro”, se é que você me entende...
De verdade? Não consigo não gostar de algum estilo artístico. Eu fico boba e me encanto sobre como as coisas foram ocorrendo, se modificando, se contradizendo e se reinventando. Uma vez ouvi “a arte é o que existe de mais humano no homem” pasmei, é a mais pura realidade dessa vida!
Termino com uma citação do Gombrich, pois não achei palavras melhores para tentar descrever “o milagre de Vermeer”: “Uma de suas características milagrosas talvez possa ser descrita, embora dificilmente explicada. É o modo pelo qual Vermeer consegue a completa e laboriosa precisão na reprodução de texturas, cores e formas, sem que o quadro tenha jamais o aspecto de elaborado ou rude.”.

A cor na arte de Veneza


Obra inspiradora: "O Grande Canal e a Igreja da Saúde", Canaletto. (1730), Museu das Belas Artes de Houston. 

Como falar da arte de Veneza sem explicitar a magnificência da cidade? Na minha visão (visão de quem fica babando em fotos, vídeos e comentários de quem já teve a oportunidade de conhecer a cidade), Veneza é uma cidade extremamente poética.
O fato de ter sido formada num arquipélago influenciou totalmente sua história, e por consequente, os olhos dos artistas venezianos, e também, os dos que saíram de suas cidades para justamente pintar e escrever por lá, seduzidos pela “cidade das cores” e a emocionalidade que ela emana. Esses artistas manejaram as luzes e cores, dos reflexos na cidade, e o resultado foi uma arte totalmente diferenciada das pinturas florentinas, por exemplo.
Um fato não menos importante, que também influenciou a arte de Veneza, principalmente quando se fala em arquitetura, foi a questão da sua localidade, que colaborou profundamente para tornar a cidade um centro comercial. Essa “troca” de mercadorias e experiências trouxeram características gringas, dando uma feição oriental para o perfil da cidade.
Voltando as cores...

O resultado das obras, marcadas pelas luzes e cores de Veneza, era a rica luminosidade, o brilho e as cores atmosféricas, diferente de qualquer arte feita até então. 

Dança Macabra

Não podemos falar as características da dança macabra, sem por em voga o contexto o qual a mesma se insere. Baixa idade média, em uma época que a peste negra é o mal da sociedade, causando descomedidas mortes, a questão “morte” universaliza-se dentre os indivíduos. A fragilidade humana diante das questões sociais, no caso, a peste negra que assolou uma infinidade de pessoas, é posta em evidência. Em linhas gerais, podemos dizer que a dança macabra é a representação da personificação da morte. As danças eram bruscas, com batidas profundas e ritmos contagiantes e muitos movimentos, assemelhando-se a um ritual. Conduziam os atores, representantes dos frágeis humanos, para a morte. Fica evidente a ideia que se visava propagar através da dança: independente do status social, cor, religião, a morte era para todos.

A importância de Plauto para o teatro ocidental

Que Plauto foi um dramaturgo romano do período republicano, até o Wikipédia sabe. O que poucos sabem, é da influência na dramaturgia posteriormente feita (Shakeapeare, por exemplo) que se deu justamente, pelo cômico Plauto. Hoje não ouvimos falar muito de Plauto, mas Shakespeare está sempre na ponta da língua, quando o assunto é teatro, certo? Entretanto, se não fosse a expressividade, genialidade e despreocupação verossímil de Plauto, que encantou o público que ele mesmo satirizava ao extremo, provavelmente, Shakespeare não seria considerado um dos “deuses da dramaturgia” nos dias de hoje. Nem Molière. Nem Goldoni.


E por aí vai...

“Psicologia do desenvolvimento cognitivo de Piaget"

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget é pautada em pesquisas realizadas pelo psicólogo suíço, a qual foi dividida, pelo mesmo, em quatro estágios. Particularmente, Piaget se interessava pelos erros das crianças, que ele acreditava ser o ponto crucial para entender o pensamento delas e como ele se desenvolve.

Para entender a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, três termos, em especiais, são fundamentais.
Os esquemas: que são estruturas de organização/interpretação do conhecimento (pessoas, eventos, conceitos, ações).
A assimilação: que faz parte da adaptação cognitiva, sendo a interpretação de novas experiências em termos dos esquemas existentes.
E a acomodação: que também faz parte da adaptação cognitiva, e diz respeito à modificação dos esquemas existentes a fim de que se ajustem às novas experiências.

A divisão dos quatro estágios foi descrita desta maneira por Piaget:

·         SENSÓRIO MOTOR (nascimento aos 2 anos): onde os sentidos e capacidades motoras são usados para apreender sobre o mundo e desenvolver a permanência do objeto;
·         PRÉ-OPERACIONAL (2 aos 6 anos): neste estágio, o pensamento simbólico é o prevalecente para compreensão do mundo e ainda não são realizadas as operações mentais que permitem o pensamento lógico;
·         OPERACIONAL CONCRETO (6-7 aos 12): a criança neste estágio de desenvolvimento ainda depende do concreto para realizar o pensamento lógico, mas ainda não dispõe do abstracionismo racional;
·         OPERACIONAL FORMAL (aproximadamente aos 12 anos à idade adulta): já neste estágio, possui pensamento lógico, pensa abstratamente e raciocina de modo hipotético-dedutivo.

Características dos estágios:
No período sensório-motor as crianças aprendem sobre o mundo por meio das interações, tanto sensoriais, quanto motoras, elas se desenvolvem por estímulos. Neste período, a criança não possui noção sobre a existência do objeto, ou seja, não olha para os objetos tomando consciência de suas devidas funções. A ação e reação são inerentes à criança, de modo que os reflexos motores são feitos de modo inconscientes. Ex: sucção, preensão palmar. Vale ressaltar, também, que o bebê busca sanar suas necessidades, portanto, o afeto é inexistente.

O estágio pré-operacional é fase do “faz de conta”, na cabeça da criança, tudo existe para ela. Isso ocorre em consequência do pensamento simbólico, que é predominante nesse estágio. As operações mentais ainda não ocorrem. E como é a fase do faz de conta, as crianças são mestres em fingir, imaginar e representar. Ex: brincar de escolinha, colocar os sapatos da mãe e sair desfilando pela casa, ou o terno do pai e falar com voz grossa, imitando-os. Elas dão vida a seres inanimados (animismo) e acreditam que tudo o que existe foi criado pelas pessoas. O egocentrismo faz parte dessa etapa também, a criança não sabe se colocar no lugar do outro, muitas vezes isso pode ser interpretado de modo grosseiro, mas na verdade, se trata da falta de alteridade, que é ensinada. Quanto à conservação, ela não existe ainda, em virtude da incompreensão da reversibilidade.

No estágio operatório concreto há maior compreensão da conservação e de outras operações mentais. Nesta fase, as crianças já conseguem pensar logicamente mas ainda precisam do concreto, não conseguem racionalizar por meio do pensamento abstrato. São desenvolvidas noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dado da realidade. A reversibilidade também é desenvolvida nesse estágio. E a partir do mesmo estágio, começa-se a perceber o outro, enquanto indivíduo, ou seja, o conceito de alteridade passa a ser assimilado.


O último estágio descrito por Piaget é o operacional formal. Nesse estágio, as estruturas cognitivas alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e o pensamento lógico é existente. O raciocínio é feito de modo hipotético-dedutivo (que por vezes, é equiparado ao pensamento científico). A necessidade do concreto para chegar à racionalidade, já não é necessária, o indivíduo, nesta fase, consegue pensar abstratamente. 

Literatura de Cordel

·      Chega ao Brasil no séc. XVIII através dos portugueses e se difunde oralmente pelo nordeste brasileiro (Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba, Bahia);
·      A partir do séc. XIX os livretos já possuíam características peculiares brasileiras, “poesia dos sertanejos”;
·      Gênero literário popular ;
·      De caráter jornalístico: “jornal e a novela do povo” (cultura popular da localidade, acontecimentos comentados, festas, mortes, lendas);
·      Recitados e declamados de forma cadenciada;
·      Linguajar despreocupado, regionalizado e informal;
·      Pai do cordel brasileiro: Leandro Gomes de Barros (1865-1918).
·      Em linhas gerais, cordel é a “manifestação da opinião do autor a respeito de algo dentro de sua sociedade”.
A literatura de cordel teve início no séc. XVI, na Renascença, passaram a fazer a impressão dos relatos que antes eram passados de forma oral.
De folheto, livreto à cordel: em Portugal eram pendurados em cordas, cordéis ou barbantes, dando origem ao nome.
Fabricados manualmente, vendidos em bancas, mercados e feiras. (8 a 32 págs.)
Os poemas de cordel possuem rima, e no Brasil a estrutura poética mais utilizada foi a de sete sílabas poéticas (redondilha maior) e uma estrofe com sete versos cada. Lembrando que existiam outras estruturas poéticas como a sextilha, carretilha e a quadra.
Eram declamados empolgadamente, como também recitados de forma melodiosa, acompanhados de instrumentos.
Também havia teatros, como as peças que Gil Vicente (dramaturgo, poeta português) fez (Auto da Barca do Inferno).
Temas: opinião do autor, indo de romance à ficção (refletia a cultura popular da localidade, boatos, acontecimentos, amor, religião). Intuito: narrar, informar, satirizar, representar, criticar.
Utilizavam figuras de linguagem como ironia, hipérbole, sarcasmo, para tornar tudo mais jocoso e interessante ao público-alvo.
Ainda hoje, os folhetos são muito apreciados e vendidos nas feiras populares,  infelizmente, não como poderia ser, a cultura é desvalorizada e artistas como Abraão Batista são tão conhecidos no Brasil, quanto no exterior.

Repente ou Cantoria: arte poético-musical. Os poetas repentistas são improvisadores, que espontaneamente, e com rítmica, fazem os poemas.