No segundo dia de Semana
Acadêmica, Caio Pierangeli, professor da instituição, realizou a oficina sobre
“Composição nas artes visuais: técnica e análise”. Foi uma oficina marcadamente
teórica, fundamentada em autores muito importantes para a área de artes
visuais. Caio começou a oficina falando um pouco sobre seus estudos e fazendo
algumas indagações, como: O que é compor? O que é arte? Porque fazemos arte? Ao
longo da oficina, fomos tentando responder essas questões, baseados nas
discussões que Caio propunha, chegando a uma conclusão interessante: Podem ser
questões facilmente respondidas por uns
e sem respostas para outros, porém, o importante é o processo que nos leva a
refletir e tentar responder essas questões.
Assim como na arte, o
processo criativo pode ser mais importante do que a linguagem. A linguagem é o
meio, o processo é que faz a diferença. Para continuar as reflexões, o
professor voltou a “Gênese da fala” (40.000 a.C), a partir do ouvir, começamos
a nos comunicar pela fala ou simples fonemas, onde iniciou-se o processo de
sapiência, quando começamos a criar coisas. Inicialmente, falando sobre as artes
rupestres, Caio compartilhou conosco que as pinturas foram as primeiras
manifestações; secundariamente vieram os tótens. Com os tótens, começou a
aparecer uma questão para além da simples representação, o simbolismo, a
religiosidade. A partir dos tótens, então, começou-se a criar coisas com uma
finalidade.
Até a Grécia, a representação
ou controle e manifestação da natureza eram os objetivos de criar. Na Grécia,
formaliza-se a questão da arte, estética, belo. Isso pensando em uma visão
eurocentrista. O homem era representado
em sua perfeição. Foi neste período que a proporção áurea começou a ser moldada
e utilizada, ela imita a natureza em suas proporções naturalmente perfeitas. O
enquadramento, a sequência de Fibonacci, foi outro elemento surgido neste
período, com a definição de quadrantes que tanto usamos ainda hoje. O professor
apresentou fotos de Cartier Bresson, propondo uma análise dos elementos, para
exercitarmos nosso olhar.
A regra dos três terços,
baseada em proporções matemáticas, também foi muito utilizada pelos gregos, na
Antiguidade, e perdurou durante quase toda a história da arte, foi muito
utilizada, principalmente, na Renascença, período que marcava uma volta aos
gregos. Caio citou como exemplo Rafael e Da Vinci, apresentando obras desses
dois grandes artistas para fazermos análises e ver como todos esses elementos
estavam presentes nas obras. Foi muito enriquecedor esse processo de
constantemente sair da teoria e ir para a prática de análises, nesses momentos
pudemos utilizar as técnicas como instrumento de análise.
Fazendo uma distinção
entre valor estético e valor simbólico, o oficineiro citou a obra “O banquete”
de Platão, apresentando os sete princípios do belo (estética), pautados em
questões físicas, metafísicas e transcendentes, ressaltando o princípio 7, em
que Platão discorre sobre o apogeu estético, que seria “Contemplar o belo em
si”; a apreciação, fruição e deleite das obras de arte. Os próprio museus, nos
dias de hoje, são considerados por alguns como instalação artística, ambiente
para apreciação de obras. Até o século XIX, o discurso da arte era puramente
figurativo, após este período, além da questão da dualidade, onde existe o
significado e o significante, começaram a surgir questões relacionadas a
arbitrariedade, onde existe o signo, objeto e interpretante, e o interpretante
é quem dá significação ao objeto, cada um vê algo.
Para
se aprofundar no tema sobre significação, tão importante para a área de arte,
Caio trouxe em imagem a obra de Magritte “Ceci n’est pas une pipe”, fazendo uma
análise da representação do cachimbo. Qual a realidade que se quer mostrar? O
que é representação e o que é real? Foi absolutamente genial este paralelo com
a obra, trouxe materialidade ao conteúdo colocado em pauta. Finalizando o
assunto, o professor apresentou a significação com base em Peirce: “Tudo aquilo
que percebemos do mundo passa pelos nossos sentidos.” e, também, comentou sobre
“A obra aberta”, livro de Umberto Eco que fala sobre o conceito da recepção da
obra de arte como uma obra aberta ao público para significação individual.
Pensando
na textura, enquanto elemento artístico, Caio enunciou que existe a textura
a-métrica e a métrica, que influi diretamente no “Gestual”, que são os gestos;
nas artes visuais, as pinceladas, que dão movimento às obras, são consideradas
gestos. Como exemplo de gesto nas artes visuais, o oficineiro citou Pollock,
que possui uma saturação gestual intensa em sua pintura. A textura influencia
no resultado da obra de arte, assim como a escolha de materiais, as cores, a
figuratividade ou arbitrariedade; todos são elementos que compõe a obra final.
Para finalizar a oficina
sobre composição, Caio propôs um exercício de análise de obras. Eram apenas
pequenos recortes de obras, nós tínhamos que identificar os elementos de
composição, verificando se eram obras de arte ou de criança. Em geral, fomos
muito bem, isso demonstrou que o conteúdo foi muito bem internalizado. Caio
também nos indicou um site www.wikiart.org, é como um google das artes visuais,
super completo e com reproduções de obras em alta qualidade, excelente para
utilizar em aulas de arte.
Palavras-chave: Composição. Artes Visuais.
Significado e Arbritrariedade.
Metodologia pedagógica utilizada pelo
palestrante/oficineiro: A
metolodogia utilizada pelo oficineiro foi exposição de conteúdo em apresentação
de slides e diálogo. Durante toda a palestra ele também recorreu ao diálogo
teórico prático, expondo técnicas, problematizando e fazendo análises de
imagens.
Recursos
utilizados: O oficineiro utilizou a apresentação de slides
como recurso principal, mas também fez alguns apontamentos no quadro negro e
trouxe objetos que tinham relação com obras para enriquecer as discussões.
Em sala de aula, em uma aula de arte, o conteúdo
da palestra poderia ser aplicado em atividades de leituras de imagens. Além de
pensar os elementos da composição visual, a leitura de imagens colabora para a
construção do olhar do aluno. Todo este conhecimento que foi compartilhado
conosco, além de contribuir para futuras elaborações de aulas de arte, é
fundamental para a nossa própria vida, pois, a composição é um elemento
intrinsecamente ligado às artes visuais e, também, implica diretamente em nossa
própria construção de olhar, visto que somos profissionais da área de artes
visuais.